even my phone misses your call, by the way
- Stuart

- 22 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Harry Styles falou primeiro, mas estou aqui para corroborar sua fala, pois até mesmo meu celular sente a falta das suas ligações. Cafona, eu sei, mas assim como Harry Styles eu tenho a tendência a passar por minhas escritas lembrando de pessoas que não me amaram e que deixaram algo como um estresse pós-traumático alojado na minha costela – ou, cientificamente, em algum lugar do meu hipocampo. Todo escritor, seja ele bom ou ruim, tem a tendência a construir em cima de algo. Eu aprendi isso com a Taylor Swift e, acreditem ou não, Harry Styles também aprendeu isso com ela. Enfim, esse texto não é sobre meu amor por música pop, mas sim sobre essa vontade de ouvir de volta alguém que, claramente, não quer voltar. O que é muito chato, sabe, porque sempre sou eu a bêbada que liga no meio da madrugada ou que manda mensagens como “sinto sua falta”, e nunca há um retorno. Cadê a lei do retorno que algum físico muito inteligente nos disse? Não vejo graça em amar amar amar, mas continuo firme e forte, tentando, porque a minha ex psicóloga me aconselhou (muito mal) que nós temos que dar a cara a tapa. Honestamente, não aconselho vocês a tentarem o mesmo, só se vocês querem ser esbofeteados. Ou melhor, ignorem meus conselhos, porque se conselho fosse bom a gente não dava, vendia e etc etc. No geral, a perspectiva aqui é: tenho sentido muitas saudades. Daquelas doloridas, de chorar enquanto escuto uma música muito bonitinha que fala sobre um casal se apaixonando e só de pensar nela aqui já estou sentindo sentimentos se aproximando.
Como Harry Styles (que foi a ideia com que eu comecei esse texto), eu tenho tido muita vontade de receber uma ligação, de preferência sóbria e arrependida, com palavras do tipo “eu realmente gostei de você”. E olha só: eu nem estou usando verbos no presente – pode admitir um gostar passado, isso já está valendo. O que tem se repetido no meu cérebro safado, que grava memórias que eu gostaria que não gravasse, é que as pessoas, das quais eu geralmente crio um vínculo afetivo e acabo gostando, normalmente não sentem o mesmo. E juro, parece até aquelas cenas bregas de filme, em que a pessoa chega e diz para aquele personagem secundário que estava ali apenas para criar atrito no enredo, “então, não é você sou eu, você, na verdade, é totalmente incrível, mas eu não consigo corresponder de fato, tenho certeza de que você vai encontrar alguém que consiga”. Uau, arrepiei. Juro, ninguém deveria tentar dar um fora em outra pessoa evidenciando todas as partes maravilhosas dessa pessoa. Afinal, se eu fosse realmente maravilhosa, não estaria rolando o término do qual estamos falando, não é mesmo? Pois então.
Falar de saudade, enquanto se sabe que a saudade é unilateral, é sofrida. A minha psicóloga, coitada, que já foi deixada para trás, costumava falar dos lutos que vivemos. Ela não me ajudou muito a enfrentar meus lutos, mas venho pensando nisso. Lutos de pessoas que, na verdade, não morreram, apenas foram embora. A dor lancinante de alguém que não mais faz parte da sua vida. Tenho passado por diversos lutos, alguns concretos, sólidos; outros metafóricos. E esses lutos, que se acumulam, me fazem chorar com a garganta apertada com saudades indizíveis. A memória, infelizmente, escolhe ser muito boa para questões específicas e parece que não tenho conseguido seguir em frente. Tenho apenas coletado cada vez mais lutos, cada vez mais abandonos, cada vez mais despedidas. Cada algo que acaba, quer eu queira ou não, pesa dentro de mim como uma pedra, intransponível, que se aloja para ficar. O que é irônico, não é mesmo, porque parece que se tem uma coisa que eu consigo fazer ficar é a constante dor da perda. Seja ela de um ambiente, seja ela de pessoas, seja ela de momentos. Todas as perdas têm feito jantar do meu coração (metafórico) e apertado replay na minha mente (concreta).
Realmente, o Harry Styles falou muito bem – assim como muitos cantores que sentem falta de amores que partiram. Parece que cada detalhe da nossa vida não está realmente no lugar porque há essa peça fora, essa coisa inomeável faltando. Tenho sentido saudades, tantas, várias, acumuladas, construídas juntas, como um muro. Tenho sentido saudades e estado em luto, constante, já vão fazer mais de dois anos. E apenas vai aumentando, sem haver um momento de alívio, de respiro, de ausência de dor.
Esse texto é uma declaração, porque eu sinto a falta de alguém. Mas também não é. Porque esse alguém se uniu, massa amorfa, a tantas outras despedidas, malditas, construídas de maneira precária, dentro de mim.
Declaro-me culpada por enlutar-me de tudo que não há em mim.




Comentários