para quem escrever?
- Stuart

- 21 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
Essa pergunta me parece mais difícil de responder, sendo que eu quase sempre escrevi mais para meu próprio entretenimento, e talvez para ganhar certa aceitação por parte dos outros ao meu redor.
Só que eu sei que há uma audiência, seja ela qual for, para toda escrita que eu faço.
Acho que, conforme eu fui escrevendo, eu escrevia sempre com um destinatário. Um único destinatário, que talvez não recebesse aquilo que eu estava escrevendo, mas que estava ouvindo, como que uma oração imaginária, aquilo que eu colocava em palavras. Ao mesmo tempo, eu sempre quis ficcionalizar mais minha vida do que discorrê-la com verossimilhança. Não escrevia poemas de amor porque queria que alguém entendesse uma parte essencial de mim, e sim, escrevia poemas de amor porque queria que alguém lesse aquilo e sentisse que seus sentimentos estavam sendo compreendidos, finalmente.
Escrevo para arrecadar compreensão e apoio, talvez, assim como escrevo para ganhar elogios que alimentem meu ego. É feio, às vezes, querer tanto ser amada mais do que pelo que se é, e sim por aquilo que se apresenta, como produto. Sempre quis ser valorizada por essa característica, muito protegida, de usar palavras com criatividade. Por mais desagradável que seja admitir que preciso desse apoio externo, sei que é a verdade. Escrevo para você, leitor anônimo - mas não anônimo de verdade -, que pode me dizer que eu sou maravilhosa por aquilo que coloco no papel e isso é melhor do que não ser nem um pouco maravilhosa.
Talvez escrever sobre experiências pessoais seja o ambiente em que se espera que haja um público-alvo. Por exemplo, quando se fala sobre relacionamentos, se pensa em pessoas que estejam envoltos nesse assunto para quererem ler aquilo. Mas quando alguém escreve ficção, está pensando em alguém além de si mesmo? Sempre me pergunto isso e às vezes me deparo com reviews de livros que abordam exatamente isso - tem histórias que estão sendo criadas porque a autora precisa externalizar desejos e sonhos e promessas suas ao mundo. E tudo bem, até certo ponto, porque ficção tem essa beleza de não ser verdade mesmo tendo muito de verdade permeando as entrelinhas.
Perguntar para mim mesma sobre quem eu espero que me leia me leva a pensar em autoras que eu gosto muito. Em quem Charlotte Bronte estava pensando quando escreveu Jane Eyre? E por que eu acho que ela estava só pensando em si mesma? Será que, em alguns momentos, ser escritor é um comportamento extremamente autocentrado? Talvez eu saiba, bem na superfície, todas as respostas, mas sei que para cada verdade existem mais três elencadas. Talvez tudo comece com a gente, um espaço em branco e palavras acumuladas. E depois segue para além. Talvez o meu maior problema como escritora é querer abraçar o mundo todo e nunca conseguir isso de fato porque nem todo o mundo quer ser alcançado pelas minhas palavras.
Eu escrevo, primeiramente, para satisfazer ao meu próprio prazer. Depois, eu escrevo para obter a mínima validação externa. E, por fim, eu escrevo para o mundo, deixando vago e amplo e aberto, esperando que as portas e janelas abertas façam com que algo - inominável, desconhecido - entre.




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