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por que escrever?

  • Foto do escritor: Stuart
    Stuart
  • 20 de fev. de 2023
  • 4 min de leitura

Talvez eu deva começar esse texto contando uma história.

Quando eu era uma criança, eu lia muitos livros. Ler foi a minha maneira de me ajustar ao mundo e entender como as coisas funcionavam. Ler fez com que eu me tornasse alguém menos solitário, pois no momento em que eu estava presa a um livro, o mundo se tornava outro e eu deixava de ser eu mesma. A partir dessa trajetória de ser uma leitora, eu queria muito poder usar as minhas próprias palavras para criar novos universos e me transportar para novos momentos, sem precisar utilizar de outros para ter essa realidade distinta em minhas mãos. Então, a vontade de escrever veio do desejo que sempre alimentei dentro de mim de ser uma criadora de histórias, as mesmas histórias que me faziam companhia enquanto eu crescia.


Desse modo, aqui estou, tendo que explicar por que eu continuo escrevendo. Talvez tenha começado assim, com essa simples afirmação. Eu escrevo porque eu leio. Assim como começou com um simples pensamento, eu escrevo porque eu quero fazer o mesmo que está nos tantos livros que eu me apaixono todos os dias. E aí, veio a poesia. Talvez a poesia tenha me encontrado de repente, no meio da minha pré-adolescência/adolescência solitária, atravessando conflitos internos de quem eu era e de para onde eu estava indo. Talvez eu tenha encontrado a poesia, uma parte da literatura em que fugiam significados concretos e a imaginação podia fantasiar e ir muito mais longe. Talvez ambos. Eu me vi ali, parada, lendo tantos poemas e me deparando com tantos significados, amplos e pessoais. E por causa da poesia, eu decidi que eu poderia comunicar toda a bagunça mental que é ser um ser humano em crescimento aos outros. Claro que de modo silencioso, pela internet, sob um pseudônimo e sob uma nova identidade, uma nova pessoa. Eu me tornei escritora no momento em que me reinventei para criar uma nova realidade em que escrever fizesse sentido e que sentir não fosse algo a se ter medo. A partir daí, me afoguei em métricas e sílabas poéticas, falando sobre amores não correspondidos e corações partidos. Rimei amor com dor tantas vezes durante a minha adolescência que hoje em dia até acho doce pensar que existe poesia até nas frases mais clichezonas já pensadas. Faltava muita criatividade, mas sobrava desejo, paixão e um balde de tristeza. Eu gostava muito de usar como lema aquele verso de Vinicius de Moraes, "tristeza não tem fim, felicidade sim". Para mim, era aquilo que importava, aproveitar as minhas muitas solidões e as minhas muitas incertezas e cunhar esse espaço de ser livre. E eu fui livre, por bons anos, ao mesmo tempo que não era livre onde importava de fato, que era na vida real. Escondi-me entre as frases mais capengas e os poemas mais bobos, fingindo ser alguém maior e mais e mais e maior.


Agora, aqui estou eu, bons 10 anos depois, olhando para trás com orgulho. Eu sou quem eu sou, ainda imensamente envergonhada de quem eu sou mas com coragem o suficiente de o ser abertamente, porque uma menina de 13 anos decidiu que gostava muito de escrever e que queria ser alguém que escrevia e que fazia os outros se conectarem com suas palavras. Talvez não como uma escritora profissional, mas como alguém que consegue pegar os pensamentos bagunçados e os sentimentos confusos e colocá-los em algo que possivelmente nem é tão bom assim, mas que é externo de mim. E ser externa de mim já é um grande passo.


Acredito que ainda não respondi objetivamente a pergunta e talvez esse seja meu grande problema quando se trata de me aventurar pelos caminhos da escrita. Eu escrevo porque preciso. Não só porque gosto muito desse espaço, eu e as palavras, mas porque as palavras me ajudam. Parece que, ao externalizar todo esse caos que vive em mim, eu consigo não apenas vê-lo, mas entendê-lo como parte significativa minha. É uma maneira de sofrer menos as desilusões e sentir todos os sentimentos com um passo para trás. É uma maneira de criar novas realidades, para mim e para os outros, de modo que eu mesma possa viver diversas vidas em uma só apenas pela palavra escrita. É uma maneira de abrir um espaço de mim mesma para os outros sempre com a desculpa de que aquilo que escrevo é mais ficção que verdade, porque assim é mais fácil aceitar que não seja tão bom - dessa maneira não significa que minha vida não seja tão boa. É uma maneira também de criar conexões com o outro, mandando longos textos cheios de metáforas que significam diversas coisas, mas principalmente "eu confio em você" e "essa é uma parte minha toda sua". Escrever, eu vejo agora enquanto escrevo, é uma maneira de me doar ao mundo ainda mantendo uma distância segura. Não sou nunca eu e você, mas sim você e minhas palavras. E as minhas palavras não são capazes de sentir nada além de olhos sobre elas.


Escrever, então, bem como foi ler, é minha maneira de me afastar me aproximando. Mesmo que eu esteja em contato com o mundo, há uma camada entre nós. E essa camada torna tudo mais fácil.

 
 
 

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