why am i a monster
- Stuart

- 19 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
se eu preciso escrever,
então penso em letras que soam melódicas
e traço sentimentos dissonantes no papel.
porque poesia sempre foi gritos
sonoros, cantados,
com paixão e dor e felicidade.
não sou escritora, como eu gostaria de ser. gosto de escrever sem métrica e com nenhum entendimento de rimas que façam sentido. queria dividir com o mundo os amores que berravam no meu peito porque era difícil viver dentro de mim.
esses dias, uma amiga minha me disse que passou muito tempo procurando em alguém o que ela era. e essa ideia me apavorou. eu disse, rindo de maneira sonoramente assustada, que seria horrível me deparar com alguém como eu. talvez isso seja mais do que qualquer um possa dizer sobre me amar primeiro e depois deixar os outros me amarem. eu me amo, eu acho, na maioria dos dias, mas sinto que eu mesma sozinha sou peso demais para uma existência conjunta. já dizia lorde, cantando sobre voltar para si mesma, e às vezes sinto que eu volto e volto e volto, mas não sei se alguém gostaria de traçar a mesma rota. perigoso demais.
a escrita, então, faceta descabelada, em que é possível colocar mais sentimentos que palavras, porque nem todas as palavras do mundo conseguem resumir o revirar no estômago e a dor permanente na cabeça, vira o local de esconderijo. os monstros sonoros da minha cabeça saem para passear nas minhas orações subordinadas e eu nem sei direito o que dizer além de bem-vindos.
bukowski, que era um grande merda etcetcetc, tinha seu blue bird dentro do coração. uma metáfora boa para aquilo que é bonito sempre ficar enterrado em nós, como se não fosse possível ficar verdadeiramente nu na frente de outros por ser um sentimento deveras tenebroso. o tal pássaro é frágil, vulnerável, por isso não é possível realmente vislumbrar nada além de grades e muros e longos rios que parecem nunca chegar em sua nascente. se até o mundo parece ter um fim, talvez tenhamos também, mas que fim seria esse... eu sinceramente não sei.
se o bicho-papão realmente existisse,
talvez ele me ajudasse a enfrentar o silêncio
latente e alto
que me assombra toda noite na hora de dormir.
a música está alta
ensurdecedora
e, mesmo assim, nada cala
aquilo que acorda toda vez que quero adormecer.
querido diário, sentir-se sozinha não é um castigo. é uma promessa, indizível, indissociável.




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