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a insustentável presença da incerteza

  • Foto do escritor: Stuart
    Stuart
  • 23 de jan. de 2021
  • 6 min de leitura

Hoje eu percebi várias coisas da minha pessoa que eu andava deixando de lado. Talvez pela necessidade de deixar para depois mais preocupações frente a tantas preocupações acumuladas por mim. Bom, dessas coisas, percebi que não sei o que a vida tem a me dar para os próximos anos. E isso pode parecer algo óbvio, pois ninguém sabe (vide 2020), mas não é bem isso. Até esse ano que passou eu tinha esse plano traçado na minha mente que estava, até certa forma, se mantendo fixo. Eu vivi minha vida jovem de universitária, em meio a livros, estudos e amigos, com aventuras sendo exploradas e muitas bocas sendo beijadas também (porque nem só de livros essa mulher vive, apesar dos pesares). E tudo isso estava indo conforme o esperado, estava ali me formando na universidade aos 22 anos depois de ter aproveitado minha formação e me encontrado no que queria fazer para o resto da vida (o que é muito assustador, mas estava resolvido sabe). Aí, pronto, depois de lutas e sofrimentos e quase um ano inteiro nesse processo de formar e não formar, formei. Me formei licenciada em Letras Português e Inglês (e suas respectivas literaturas). E agora, eu faço o que com isso? Eu me formei, mas os planos não iam muito além disso não. Ok, um emprego estava sendo delineado, concursos tinham sido pagos para serem feitos, mas... nada tem acontecido, não é mesmo? E aí me peguei em frente a esse amplo espaço em branco da minha vida que eu deveria ter planejado em algum momento depois dos meus 18 anos e da entrada da faculdade, mas achei que ia resolvendo enquanto fosse. Eu já tinha, afinal de contas, tido uma boa parte da vida bem delineada, o que eu queria mais? Só que o tempo chegou, o tempo se assentou em cima de mim e fez uma dancinha desgraçada de deboche. E eu, como uma boba, estou tentando formular uma ideia sobre o que quero para os próximos 5 anos da minha vida. Claro, o emprego está ali, como ideia. As apostilas foram compradas, não se preocupem. O concurso segue tendo sido pago e está lá, pairando na minha caixa de emails. E eu me pergunto: e aí? Eu arranjo um emprego, tudo ótimo, as contas serão pagas e eu arranjo aquele aluguel suave num apê de um quarto ou quem sabe uma kitnet pois afinal, professora né. Sim, sim, ok. E haverão coisas acontecendo na minha vida, assim como sempre houve. Eu sei que a vacina chegou ao país e depois que todo mundo for vacinado, eu também, vamos poder voltar a algo que seja similar ao normal (but not quite like it). SIM EU SEI, parem de gritar nos meus ouvidos. "Ô mulher que só sabe reclamar", é isso né? Mas e eu faço o que com a vida? Eu tenho que almejar algo né? Tipo, almejava me formar no ensino básico - formei. Almejava me formar na faculdade - formei. Almejo ter um emprego que por favor me pague os benefícios pois não aguento mais ser autônoma - em breve chego lá. E nesse processo eu tenho que viver? Fazendo o que exatamente? Me preparo para o emprego, está bem. Faço uma e outra ligação pra minha melhor amiga, damos risadas. Mando mensagem para todas as minhas amigas no whatsapp dizendo que amo elas, sinto saudades. Ok, mais um dia, normal. Duas séries novas, alguns livros começados. Sim, sim, sigo vivendo. Em breve vivendo mais. Ok, e depois? Ai, sabe? É esse overthink que me pega em cheio. Para que vivo, meu bom deus? Qual é o meu objetivo nessa terra tão bonita ao mesmo tempo tão perturbadora? Eu não quero necessariamente morrer nem nada, mas preciso de um objetivo. Preciso encontrar algo e fixar, ficar meio obsessiva, idealizar esse futuro que ainda vai faltar uns anos para chegar, para eu ter um tempo e não ficar pensando tanto nisso. O futuro me apavora demais, sabe? Acho que já deu meio para perceber isso nessa loucurada que eu chamo de fluxo de consciência, entendo, mas é que eu estou apavorada no momento. Tenho feito planos como uma adoidada. Tenho pensado em coisas para ocupar meus dias, horários de estudo, exercícios longos, novas séries, novos livros. O tempo parece não passar ao mesmo tempo que as horas escorrem, de fato. E eu o quê? Eu estou vivendo e tem dias que consigo aplacar essa inescrutável ansiedade do futuro. Mas nos intervalos, me pego pensando se não deveria pensar mais em fazer conexões significativas. Se não deveria estar inserida mais nos meus grupos sociais. Se não deveria ter encontrado minha alma gêmea. Sei lá, me pego pensando na solidão. Me pego olhando para o branco vazio do meu futuro e pensando "é, sou só eu nisso tudo e aí?". Não sou dessas que seguiu com a ideia de casar ter filhos e todo o pacote, mas ao mesmo tempo tenho a noção de que companheirismo é necessário e o ser humano não se relaciona apenas por convenção social, mas por necessidade. E aí entramos em outras conversas, eu sei. Estou preocupada com o futuro vendo meu presente um pouco vazio de coisas. Então eu encho de livros, juro para vocês, é ridículo. Esse ano eu cumpro a meta do goodreads, só pelo meu medo de deixar um espaço em branco para a incerteza do que vai acontecer nesse futuro pelamor do todo poderoso. [insira mais um mental breakdown, you know the drill]. Não sei bem o que é essa ideia de que precisamos de objetivos e como esses objetivos devem nos completar como seres humanos. Não entendo. Eu me sinto bem com como cheguei aqui. Sou jovem, condição estável, inteligente, a aparência não deixa muito a desejar, conquistei várias paradas legais, tenho um emprego (que apesar de autônomo) que eu amo bastante. Sei lá, eu tô bem, entende? Eu tô tri bem, meu, tô tri bem. Pare de preocupação. Eu não tenho do que reclamar, mas cá estou. É essa vozinha na minha cabeça que continuamente pergunta "ok e agora? mas e agora? e agora? e depois de agora? e esse segundo que vem depois do depois do agora? e agora que chegou aquele agora e agora?" Sabe? É exaustivo quando eu me jogo nessa vida de pensar, é muito ruim. Mas sigo, os planos são esses e ninguém perguntou. O emprego uma hora vem, o apê também, a vida sozinha junto com minha gata, em breve algum possível encontro no bar com minhas amigas, uma possível bebedeira na casa de alguém em que eu choro em público de novo, uma idinha no cinema por semana, a ideia de pegar dois busão lotado para ver aquela pessoa querida. Enfim, há planos mesmo. Há viagens a serem concretizadas, eu ainda preciso ver Machu Picchu e Paris e andar pela Grécia falando algo como "só sei que nada sei". Eu fiz planos em meio a não fazer planos, entende a confusão? Não gosto desse meio estado em que estamos, mas ninguém gosta né. O futuro é uma merda porque não há nada. O passado pelo menos eu posso ficar contemplando e pensando "puts eu deveria ter tomado pelo menos mais uns dois gin tônico naquela noite" ou "que droga eu adoraria ter dormido do lado das minhas amigas e acordado 2 horas antes dela". O passado é aquele gostosinho de saudade completa e aquele arrependimento latente de não ter feito o suficiente, mesmo tendo feito um monte de merda que foi foda mesmo. Porra, meu passado foi muito legal. Com todas as coisas ruins e tal, os traumas, o tanto que chorei em transporte público, todas as pessoas que não me amaram de volta, todas as amizades escorridas pelo ralo, todos os nãos que deveriam ser sim e todos os sims que deveriam ser nãos. Sabe, até o ruim é bom quando olhado da distância do presente, do agora. Mas o futuro é essa incerteza. Será que vou seguir pensando assim ou vou mudar? Será que vou conseguir trabalhar para sempre no mesmo lugar? Será que vou seguir amiga das minhas amigas e será que vou encontrar meu lugar como pessoa no mundo? Será que vou será será? O que vai acontecer, alguém me traz uma vidente por favor, alguém para dizer "sim, Kimberly, para de se preocupar, emprego amigos felicidade amor, tudo isso está lá, assim como está aqui, assim como esteve antes, assim como tem que ser". Eu sei que não precisa disso tudo, eu sei que se eu seguir traçando o caminho ele vai seguir melhorando, a tendência é melhorar, tô certa né? Mas enfim, eu me pego espiralando nessa onda de nervosismo e ansiedade e uma tristeza incansável por tudo que eu ainda nem vivi, nem sei, nem tô ligada de verdade. A vida segue seguindo, esse ano é um novo ano, eu sou eu ainda mas melhor ou sei lá um pouco melhor pelo menos, a gente conseguiu a vacina e mesmo que o presidente siga o mesmo, pelo menos eu amo pessoas que odeiam ele tanto quanto ou mais que eu. Não sei direito o que foi tudo isso, mas a vida é complicada sabe? A vida é complicada demais e eu não sei para onde colocar essas neuras as vezes. Meio que meu diário isso aqui. Meio que minha mente às 3 da manhã quando tô com insônia e o coração parece que tá batendo na minha boca. Eu nem escrevi nada com nada e a conclusão é simplesmente "PARE DE NOIAR MINHA FILHA". Mas também a conclusão é que se você noia que nem eu, não tá sozinho! Parabéns pelas ansiedades, elas sempre são compartilhadas com pelo menos 20% da população mundial.


É isso, tenham uma boa noite!

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