eu quero a sorte de um amor tranquilo
- Stuart

- 6 de jun. de 2022
- 4 min de leitura
Terminei recentemente de reler "Madame Bovary" e fazia uns anos que eu tinha lido e me apaixonado por essa história, e era uma outra Kimberly lendo esse livro antes e agora, então me peguei pensando tanta coisa na minha leitura e fazendo comentários em voz alta para a minha parede que pensei "vou fazer comentários em voz alta para a minha parede virtual" aka meu blog adormecido que resgato de tempos em tempos.
Seguindo a temática que parece me assombrar em vários dos meus posts, vamos falar sobre ROMANTISMO (palmas, gritos, estupor). Sim, esse livro maravilhoso intitulado "Madame Bovary" surgiu na literatura nacional francesa como um pisão em cima de todo romantismo - e, claro, aqui me refiro ao movimento literário romantismo, mas aproveito e já puxo o gancho para o que virá a seguir. Então, Flaubert querido criou esse livro como uma afronta aos romances anteriores a ele, sendo um dos pais do realismo (amém).
Mas, é claro que, ao criticar o Romantismo (com R maiúsculo), ele também mete o pau (bem dado, na minha humilde opinião) no romantismo (com r minúsculo). A nossa protagonista e dona do nome da obra é uma ávida leitora de romances. Se ela vivesse nos dias atuais, ela passaria as suas tardes assistindo comédias românticas água com açúcar na vibe Diário de uma Paixão do Nicholas Sparks. Essa é a nossa querida Emma Bovary. Ela é apaixonada pela paixão, ama o amor, sonha com o desejo que enlaça o coração e queima a alma (só coisinha leve suave tranquila sabe).
E para mim, ao ler esse livro agora como uma pessoa enfrentando diversas crises pessoais, parece que a Emma é o retrato do quanto querer o amor arrebatador dos livros não é muito satisfatório. Na verdade, ela nos comprova que ao tentar viver esses tipos de amores, o que mais advém deles é dor e sofrimento. Ao amar seus amantes, ela sente uma necessidade de os ter, de ser deles, de pertencimento, de posse, de completude. Ela quer que eles sejam sua vida assim como ela seja a vida deles. E isso, não sei se vocês já sabem, é bem ruim. Dói. Tortura. Machuca. Causa morte (hello spoilers de Madame Bovary).
Um antídoto bom para não querer amantes é ler esse livro. Não entendo por que foi censurado. Se eu fosse uma jovem impressionável da época e tivesse lido esse livro, teria imediatamente me voltado ao meu marido sem graça e agradecido por ele. Porque é esse o meu maior ponto de leitura dessa vez - o quanto precisamos valorizar a vida sem fogo que a maioria de nós vivemos.
Veja bem, eu entendo a Emma. Eu entendo mesmo, porque eu sou uma ávida leitora de romances (inclusive, devorei todos os volumes disponíveis de Heartstopper em uma noite) e adoro o amor. Acho que se apaixonar é um troço muito bonito, imageticamente. Eu até escrevo poesia, sabe. Então, eu tô por dentro das paradas. Só que, mesmo ao entender a Emma, eu vi ao ler esse livro um retrato de um verdadeiro amor, que foi deixado para escanteio - o Charles Bovary.
De todos os que passaram na vida de Emma, o único que ficou com ela durante todos os percalços, que aturou e cuidou dos seus sofrimentos, que forneceu um lugar para que ela pudesse ser, que deu o seu ser para outra pessoa, sem esperar retornos. Porque, honestamente, Charles Bovary estava contente com a simples presença chocha da Emma, porque ele a amava, profundamente, e seguiu amando ela mesmo após descobrir tudo - a falência, os amantes, os segredos. E esse amor morno e sem graça precisava ser mais valorizado, porque é ele que move a maioria das relações. Não que eu esteja dizendo que todo relacionamento é morno e sem graça, mas o fogo da paixão não é para sempre - ele consome as pessoas (até porque, gente, fogo é RUIM - eu sei, eu sei, sou do signo regido pelo fogo, acho muito massa etc etc, mas é ruim e não tem o que dizer que mude esse fato). O conforto de ser amado, para mim, observadora nata de bons relacionamentos (e de maus relacionamentos), é o que torna um relacionamento... bom. Saudável. Duradouro. Saber que o outro ali está e ali permanecerá, obviamente, nem sempre é tudo que se precisa. Mas a paixão sempre será passageira, enquanto o amor, não.
Enfim, devaneios vão e devaneios vêm, eu queria apenas defender o Charles Bovary. Porque ele tentou, do jeito dele, viver a vidinha dele. E isso está totalmente bem. Nem todo mundo pode ser a pessoa mais fantástica do mundo, por isso é importante que tenhamos alguns assim, meros mortais, medianos em tudo que se faça. Estar na média é BOM, estar na média é COMUM, estar na média é PRECISO. E Charles Bovary está na média, na profissão, na classe econômica, no amor. E ele teria vivido uma vida tranquila em família se a mulher dele não tivesse fascinação por viver algo extraordinário - algo fora do comum, que elevasse sua alma e a fizesse se sentir em outra dimensão. Isso a matou!
Sim, eu sei que o fogo da paixão não leva todo mundo ao suicídio, mas leva a decisões bem ruins e a sofrimentos imensos. E sofrer faz parte, é importante também. Mas chega uma hora que é bom pensar em si, no lado bom de se aconchegar em alguém e transformar esse alguém em lar, não em fogareiro.
A partir de hoje, sempre que tiver a oportunidade defenderei Charles Bovary na sua busca pelo amor tranquilo dele. (também estou nessa busca)





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