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amor amor amor

  • Foto do escritor: Stuart
    Stuart
  • 24 de jul. de 2021
  • 3 min de leitura

Mas é claro que eu ia chegar na minha vida pós graduada para descobrir que meu professor de literatura brasileira do primeiro semestre de faculdade tinha fundamento ao afirmar que o amor é uma invenção. Não sou muito criativa nas palavras ao dizer que, adivinhem, o amor foi criado pelo imaginário social assim como o capitalismo e a política, assim como deus e como o futebol. Sei lá, a nossa mente tem essa capacidade organizacional de compor uma realidade em que as coisas façam sentido em conjunto com funções específicas e aí entram nós, seres complexos, que precisam de uma função social. Ah, o amor romântico, quantas funções têm desempenhado e como parece ser importante para todos nós - eu incluída. Acredito que aceitar que o amor é um construto social não me faz crer menos nele, entendam, mas me faz entender que não existe ideal de amor porque de tempos em tempos esse ideal muda. A vida como conhecemos agora tem se inventado desde o século XX e se reinventa todo dia, incluindo uma ideia de que relacionamentos servem para completar e complementar uma vida de consumismo e servidão ao Estado. Yay! Tá, mas sério. Papo revolucionário vai, papo revolucionário vem, mas precisamos dessas invenções. Essas histórias que inventamos para nos dar propósitos servem para que nos organizemos e tenhamos uma vida que faça algum tipo de sentido mínimo e isso é ótimo. Em algum momento fomos nômades de tribos pequenas que não tinham nenhum tipo de relacionamento amoroso como conhecemos agora e agora somos sedentários em grandes cidades buscando a nossa "cara metade", o nosso "outro alguém". E tudo isso é okay, precisamos daquilo que precisamos e tudo bem idealizar o amor como esse algo, assim como tudo bem não desejar o mínimo de amor. Mas eu fico com essa pergunta me rondando e nenhum inteligente cientista apresentou estudos suficientes sobre os sentimentos. Sim, os temos, aos montes e nem sabemos direito como eles funcionam de fato. Claro, a gente viu Divertidamente, né? A gente tem as emoções básicas para a sobrevivência - o medo nos impede de sermos comidos por predadores e a raiva nos faz proteger o nosso território de possíveis inimigos. Tudo isso é incrível e bem, well, básico. As questões mais profundas, sentimentos complexos que partem de emoções e criam caminhos intrínsecos no nosso cérebro e terminações não são passíveis de explicações. Juro, pesquisei sobre isso. Tenho ficado meio obcecada. Certo, aceitei que o amor não existe tal qual nos é ensinado, desde os contos de fadas às comédias românticas, mas ele existe de alguma outra forma individual e insistente que permeia diferentes tipos de relacionamentos. E eu aqui me pergunto: quanta gente nunca soube que sentiu o amor porque tem medo de nomear determinado sentimento de amor e ser confundido por um louco romântico incurável? Talvez sejamos, de certa forma, o limiar das relações. Hoje em dia amar é amplo, é diverso e se desprende do que entendemos que precisávamos. Mas ainda assim, se quisermos o amor e sentirmos de alguma forma o amor, ainda tememos que ele seja confundido com um flashmob no meio da avenida lotada com um pedido de casamento ao som de Will you marry me?. Então, a pergunta é: sabemos mesmo o que é o amor? Ou apenas sabemos que na história da humanidade criamos diferentes narrativas para aquilo que é mais adequado para o período e que hoje em dia já não nos cabe tanto fazer declarações de amor pública e estamos precisando de outros tantos diversos tipos de amor? Não sei e trago aqui os meus questionamentos porque tenho sentido muito amor em mim, meio explosivo e incontido, e tenho sido confundida com alguém que veio perdido do tempo. Só queria fazer meu caso: o amor existe, para todos nós, na nossa própria narrativa, com a nossa própria perspectiva, e ao mesmo tempo existe em uma esfera neurobiológica sem nome que ainda não conseguiu ser estudada. Não somos apenas seres sexuais que querem procurar alguém que seja atraente e nos faça gozar rápido (isso também, mas não vem ao caso). Somos mais. Só que esse mais vem escondido de esferas não pesquisáveis e de difícil acesso, até do mero reconhecimento de que precisamos disso. Conexão, contato, carinho. Talvez o amor seja invenção, seja algo não identificável completamente. E talvez apenas tenhamos que aceitar que tentar explicar demais não nos cabe muito.

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