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Leituras de Março

  • Foto do escritor: Stuart
    Stuart
  • 31 de mar. de 2019
  • 11 min de leitura

Março foi o meu começo de ano. Dizem que aqui no Brasil o ano só começa depois do carnaval e esse ano eu pude comprovar que, realmente, o ano só começa depois do carnaval. Comecei a fazer minhas leituras, afinal, com o mínimo senso de que estava lendo, a partir do dia 5 de março. Aqui disponho, então, as leituras de março:


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Death of the Salesman, de Arthur Miller, é uma peça de teatro de 1949. Foi apresentada na Broadway e ganhou diversos prêmios Tony.

É uma tragédia, ambientada em Nova York, sobre um comerciante, que já velho e meio louco, precisa continuar no emprego porque ele precisa do dinheiro. Os filhos voltam a casa, sem saber que o pai está em um estágio um tanto avançado de loucura e que a ideia de felicidade, ter uma casa e uma família, com condição financeira adequada, é um sonho distante na era do Capitalismo.

Essa peça critica a exploração e goza um pouco com a ideia de dedicação desenfreada do trabalhador para que, ao fim de sua vida, não ganhe um tostão por todo o tempo em serviço.

É trágico e cômico, porque percebemos que por mais que não queiramos estar inseridos em uma realidade assim, infelizmente estamos. E acabamos nos deixando levar por falsas ilusões de uma possível fuga, que nunca vem. Ou de uma possível aposentadoria, que nunca vem também.

É um livro que eu recomendo 100% para quem gosta de uma leitura mais dialogal (por ser uma peça), mas que também quer destruir o capitalismo. Apesar de, ao chegar ao fim do livro, não ficamos com uma sensação boa em nós, é uma boa leitura para pensar sobre como o mundo moderno vem moldando nossas vidas para o trabalho.


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Desculpa, quero me casar contigo, do escritor Federico Moccia, de 2010, é um romance italiano.

Esse livro, na verdade, é a continuação de uma história que eu não sei porque só li esse segundo livro, meio perdido, porque achei em uma feirinha por R$10. É uma história de um casal, Nick e Alex, que engloba as histórias das amigas de Nick (as Ondas) e dos amigos de Alex.

É um livro divertido e um pouco longo demais, no qual a gente fica esperando o momento em que tudo vai desmoronar (afinal, não vivemos para isso?) e em que a vida de todos desmorona primeiro do que a vida dos personagens principais.

Eu não recomendaria esse livro com tanta veemência se você não gosta de um romancezinho bem clichê. Mas recomendaria para quem gosta do tipo de história que engloba mais do que apenas dois personagens principais. As histórias secundárias, algumas vezes, provocam mais emoções e interesse do que a história principal.


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O livro mencionado acima recebeu uma adaptação cinematográfica! O que é excelente, vamos combinar, quando não nos animamos grandemente com a versão escrita da leitura.

Eu, pessoalmente, recomendaria bem mais o filme do que o livro. Não porque foi bem produzido ou porque a atuação é excelente. Não, nada disso.

O filme é a fatídica comédia romântica que amamos (ou nem tanto) para passar domingo à tarde quando não tem absolutamente nenhum programa que nos interesse na televisão.

E, claro, os atores são bonitos. E engraçadinhos. E a diferença de idade deixa a gente um pouquinho intrigada para o que vai dar. Ah, a história aqui foca mais nos principais, mas não deixa de ser gostosinha de ser apreciada. Porém, não se engane, a leitura de um produto no lugar do outro (ou seja: o filme no lugar do livro) não iguala. Mas é um bom passatempo.


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Beleza Perdida, um livro de 2015, da autora Amy Harmon, é um romance que vai, definitivamente, fazer você chorar.

A história vai para frente e para trás, trazendo flashbacks que trazem um vislumbre do passado da nossa personagem principal: Fern (esse nome é interessantíssimo que significa "samambaia").

É uma história de amor então, não se preocupe, o final do casal vai ser feliz. Eu não diria o mesmo para o restante do pessoal que está na história. O livro já começa com uma tragédia: o 11/09. Daí em diante vemos os personagens passarem por diversas aventuras e conseguimos ver o ponto de vista não apenas de Fern, mas dos outros.

Trata sobre diferenças, sobre amar as pessoas por necessidade, sobre sermos apaixonados desde sempre por aquele alguém especial.

Eu recomendo esse livro para quem gosta de narrativas YA, porque traz aquele quentinho no coração e é uma leitura que vai indo muito rápido e prende sua atenção. Pegue os lencinhos, no entanto, e sente confortavelmente na cama para que a posição fetal seja mais fácil de ser realizada enquanto você se despedaça um pouquinho ao ler.


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Who's afraid of Virginia Woolf, de Edward Albee, é uma peça de 1962.

Eu quero apenas pegar esse texto e carregá-lo comigo para todos os dias da minha vida até o infinito. Eu amei tanto tanto tanto esse livro que não há palavras para descrever esse amor.

Não, ninguém fala de Virginia Woolf nessa peça e talvez você chegue ao final do livro e se pergunte "Por que diabos alguém teria medo da Virginia Woolf?". Eu não tenho medo da Virginia, mas se você não conhece ela ou os seus livros, talvez você não consiga perceber por que alguém citaria ela em situações com essa - um tanto absurdos.

Não consigo explicar essa peça ou dizer sobre o que trata. Mas é um casal que recebe outro casal em sua casa para drinks e esses drinks levam para questões existenciais e existe um limite bem tênue entre verdade/mentira ou realidade/ilusão. Cuidado, você vai chegar ao fim quase tão confuso quanto o casal recebido para esse estranho encontro. Mas vai ser um experiência extrassensorial.

Eu não li esse livro, mas escutei. O que foi uma experiência a mais, também, e recomendo. Por ser uma peça, temos uma outra sensação ao escutar os personagens falando com a gente. Recomendo muito, principalmente essa imersão em audiobook.


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E olha aqui, pessoal, temos filme dessa peça!!!!!!!!! (nem todos os pontos de exclamação são possíveis para explicar a emoção dessa obra)

A recomendação já começa com o fato de que o filme tem, quase integralmente, o texto da peça. Ou seja, é basicamente como ver a peça de teatro na sua telinha com atores incríveis e uma fotografia impecável demais.

Se você tem dificuldade com leituras de livros, faça a leitura desse filme. Sério, faça. Vai ali, ilegalmente, baixa o torrent, coloca fim de domingo (muitos programas para o fim do domingo) e mergulhe em uma experiência louca e de muitas - muitas - emoções.

Por favor, assistam esse filme. Elizabeth Taylor e Richard Burton, só isso.


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Fight Club, de Chuck Palahniuk, publicado em 1999.

Então: a primeira regra do Clube de Luta é que não se fala do Clube de Luta. Por isso, me abstenho de contar qualquer coisa sobre esse livro além das sensações que perpassam a pessoa enquanto se lê uma coisa dessas.

Eu senti muita confusão, desespero e um sentimento completo de agonia enquanto percorria as páginas desse livro. Queria conseguir explicar, em palavras, o quanto era difícil ler, mas ao mesmo tempo difícil não ler. Esse livro, quando você chega ao final, faz você querer voltar ao começo e ler tudo de novo. E recomendaria ler de novo ao fim dele.

Outra recomendação: fique LONGE de spoilers. Fuja deles. Se esconda em seu quarto e não saia até terminar de ler. Mas leia, porque é uma experiência.


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Acho que esse filme é um filme bem popular e conhecido por todos.

A adaptação é boa, apesar de ser uma adaptação e a visão da história ser outra que a do livro.

Novamente, são duas leituras e, por isso, uma leitura não equivale a outra. Se você assistiu ao filme, talvez você se considere apto a falar sobre o livro por ter assistido o filme ou de falar do filme por ter lido o livro. Porém, não. Toda leitura de uma obra muda e mesmo que a história, em si, não mude radicalmente, não é a mesma coisa.

Recomendo assistir o filme, não apenas por ter Brad Pitt nele, mas porque é também uma experiência meio doida e você vai ficar se perguntando "O que tá acontecendo?" o tempo inteiro.



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Maly, de Léa Michaan, é um livro brasileiro de 2011.

A história é dividia em duas partes: uma acompanhamos a trajetória de Maly, nossa personagem principal que passa por diversas situações trágicas em sua vida. E a outra parte acompanhamos um pequeno vislumbre da vida de Pietro.

Maly é brasileira, Pietro italiano. Ambos têm origem judaica, o que é um ponto importante e crucial na narrativa.

A escolha de como a história é contada, focando mais na parte emocional e de aprendizado do que a narração dos fatos, é um ponto interessante e explicado pelo fato de que a escritora é uma psicóloga.

É uma história que nos dá um gostinho do que é ser judeu e de suas tradições, o quão importante podem ser tradições, famílias e continuidade de histórias. Recomendo esse livro se você pensa que quer conhecer um pouco de escritores brasileiros e privilegiar narrativas que se passam em nosso solo.


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Jane Eyre, de Charlote Bronte, é um romance de 1847.

Há certos estigmas em livros do Romantismo e narrativas femininas, mas Jane Eyre é uma surpresa para quem se aventura a mergulhar em suas páginas.

É uma história, narrada por Jane, que acompanha sua vida e todas as aventuras que ela vivencia ao longo dos seus 20 anos.

Você vai encontrar uma surpresa nova em cada página e vai se surpreender que uma mulher, no século XIX, tenha escrito um livro com opiniões tão explícitas e com uma personagem tão livre e solta, aventurando-se por diferentes lugares.

É um livro grosso e talvez vá requerer certa paciência e persistência de seu respectivo leitor, mas você vai acabar se apaixonando por Jane - ou achando ela uma completa drama queen. De um jeito ou de outro, você tem grandes chances de encontrar personagens peculiares e situações intrigantes nas páginas desse longo romance. Recomendo muito, muitas vezes, porque vai deixar você intrigado conforme for passando suas páginas.


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A insustentável leveza do ser, de 1979, é do autor Milan Kundera.

Esse livro acompanha dois personagens, Tomas e Teres, além de alguns outros personagens que se inserem direta ou indiretamente na vida desses dois. Mas não é uma história narrativa, não vemos um casal apaixonado e como se conhecemos. Esse livro trata de questões existenciais, de pertencimento ao mundo, de nacionalismos e revoluções, de crenças e descrenças. É um livro sobre o ser e sobre como há mais intricações dentro da questão de ser do que algum dia ousamos pensar.

Além disso, o narrador (que não é personagem) fala com o leitor com naturalidade, observando como foi a criação de seus personagens do livro. Não tem muito o que se explicar sobre esse livro, mas é um livro que, se você gosta de questões filosóficas e de Nietzsche, bom, esse é o livro pra você.


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As meninas, de Lygia Fagundes Telles, é um livro de 1973 e leitura obrigatória UFRGS 2020.

Farei um post especial, com uma análise mais profunda e um cuidado especial com a história - como parte de um projeto sobre as leituras obrigatórias - mas o objetivo aqui é recomendar que se leia Lygia e que se leia esse maravilhoso livro.

A história é de três meninas: Lorena, Lia e Ana Clara. Essas três meninas vivem em um pensionato de freiras, são estudantes universitárias e têm personalidades distintas e problemas completamente diferentes. E, apesar de tão diferentes, são amigas e vivem uma vida complicada - cada uma a seu modo - juntas.

Podemos ter um gostinho do ponto de vista das três meninas, mas a que mais predomina na narração é Lorena, a que vive mais dentro do pensionato do que as outras - por motivos que vamos desvendando ao longo da história.

Lygia é conhecida por seu estilo fluido de escrita e esse livro não foge do esperado. Toca questões subjetivas e pessoais de um jeito profundo e intenso, como ninguém além de Lygia conseguiria fazer. Recomendo imensamente esse livro para ler um livro de uma mulher maravilhosa brasileira que escreveu e contribuiu muito para literatura nacional.


Uma última observação - antes de continuar - é que A insustentável leveza do ser também ganhou uma adaptação cinematográfica, mas não consegui fazer entrar nas minhas leituras desse mês. Recomendo, no entanto, sempre assistir a adaptações de livros porque as diversas formas de ser olhar uma obra são sempre interessantes e acrescentam uma nova perspectiva na nossa própria leitura. Além de ser divertidíssimo dedicar um tempo para assistir filmes - lembre-se dos programas de domingo à tarde.


Ainda dentro das leituras de Março, gostaria de acrescentar o que eu tenho ouvido, musicalmente, como indicação para que se possa apreciar os lançamentos musicais de 2019. Lembrando que existem diversas leituras a serem feitas e a música é uma leitura especial, inclusive, sendo considerada parte efetiva da literatura. Se é ou não literatura, na sua opinião, não tem importância. É mais uma forma de leitura, que talvez você nunca tenha considerado como tal.


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Julia Michaels lançou seu EP Inner Monologue Part 1 em Janeiro de 2019. O EP tem 6 músicas, entre elas duas colaborações.

Todas as músicas me tocam em algum sentido, mas minha favorita é Anxiety. Nessa canção, Julia trata sobre esse transtorno como um empecilho da sua vida mas também como parte dela, o que reflete bem como eu me sinto em relação a isso na minha própria vida.

As outras canções falam sobre amor e decepções amorosas, e são perfeitas pra cantar e relacionar com os eventos da sua própria vida. Além disso, a Julia é uma artista maravilhosa e esse é o quarto trabalho musical dela. A voz dela é uma doçura pros ouvidos e quem gosta de um pop mais relax, super recomendo.


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Sabe aquele tuíte do pai da menina que fala sobre Hozier "damn take me to CHURCH am i right", então, é isso.

Eu sempre gostei muito desse homem e da música dele, cantava a plenos pulmões Someone New. E, claro, Take me to Church. Cherry Wine. Enfim, a voz desse homem entrava na minha alma e me fazia elevar uns passos em direção ao paraíso.

Esse albúm novo, Wasteland, Baby!, lançado esse mês, faz eu querer dançar e, também, deitar no chão e contemplar minha existência. Quem gosta de uma música um pouco mais calma, com um som alternativo, e que aprecia esse homem que é Hozier, bem, não perde mais tempo porque o álbum está impecável do começo ao fim.



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Kehlani é uma artista nova nas minhas playlists mas ela já me deixou de queixo caído só por eu saber que ela tem 23 fucking anos e é esse poço de talento que já tem 4 álbuns lançados.

Ela faz parte de um estilo musical que eu ainda não havia me aventurado muito, R&B, e sinceramente, agora eu só quero passar minha existência inteira ouvindo essa mulher.

While we wait foi lançado em fevereiro e eu não consegui parar de escutar. Minha música favorita é Butterfly e a voz dessa mulher tem uma profundidade que me deixa sem ar e me faz dançar enquanto eu lavo a louça.

Recomendo escutar essa mulher se você ainda não deu uma chance para artistas mulheres e para o R&B. E também porque a Kehlani merece muito mais reconhecimento do que ela já tem.


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Nina Nesbitt lançou esse álbum novo em fevereiro, mas algumas músicas já estavam circulando nas minhas playlists desde ano passado.

É um álbum pop que faz sentir sentimentos, assim como o da Julia. Além de ter uma pegada de R&B também. As músicas, apesar de serem sobre relacionamentos e sobre como nos sentimos em relacionamos, traz também a mensagem de que, bom, o sol vai nascer e as estações vão mudar (dã). Então, recomendado para quem curte pop, para quem curte prestigiar artistas mulheres e para quem quer acompanhar os lançamentos de 2019. Eu, particularmente, gosto de todas as canções, mas meu highlight vai para The moments i'm missing.


Como menção honrosa, vou trazer o artista que eu não consigo parar de amar desde 2018 e que, apenas recentemente, me dei o trabalho de descobrir que é irmão da Billie Eilish. FINNEAS tem música pra dançar, pra chorar e pra dançar enquanto chora. Você escolhe sofrer e ele vai cantar pra você. Até agora não lançou um álbum ou EP, mas temos várias músicas disponíveis para nosso prazer e clipes dessas músicas, acima de tudo. A música do mês foi Claudia, recomendadíssima para dançar pelo quarto no sábado à noite.


Com as indicações e resumos - bem resumidíssimos - me despeço. Volto com mais recomendações e, talvez, com análises mais detalhadas de algumas leituras, além de outras questões sobre minhas leituras de mundo em um próximo post em outra oportunidade.




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