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Reputações

  • Foto do escritor: Stuart
    Stuart
  • 23 de abr. de 2019
  • 4 min de leitura

Chegou finalmente o momento em que eu escrevo sobre Taylor Swift de maneira relativamente acadêmica (porque, apesar de eu estar na faculdade, a minha bagagem de citações é escassa e eu não sei o nome de muitos teóricos). Porém, me vejo no momento de falar da Taylor porque, primeiramente, ela vai lançar música em breve e eu gosto muito da música dela e, segundo, porque eu encontrei um paralelo entre ela e Charlotte Brontë - e eu estou falando bem sério.

Para contextualizar um pouco os leitores desavisados, Charlotte Brontë é a autora de Jane Eyre - dentre outras obras, claro - e ela já foi mencionada em mais de um post aqui no blog pois eu acabei de ler pela segunda vez esse livro, para uma cadeira da faculdade chamada Literatura Inglesa. Charlotte Brontë é uma escritora do século XIX, que junto de suas duas irmãs (Emily Brontë e Anne Brontë), publicou diversos livros. A autora ficou relativamente "mais" famosa que as outras irmãs porque ela foi a única que, ainda em vida, foi reconhecida como a autora de sua obra. Tanto Emily e Anne morreram antes que o mundo (ou apenas a Inglaterra mesmo) soubesse que elas eram as verdadeiras autoras de Morro dos Ventos Uivantes e Agnes Grey. Como Charlotte foi a única a restar viva para lidar com esse reconhecimento, ela também foi a única a lidar com a reputação que criaram para ela em relação a sua obra. Aqui eu faço uma pausa para dizer que a escolha de palavras não é ao acaso e que eu, de fato, estou me referindo ao álbum Reputation de Taylor Swift.

Pensemos que, durante o século XIX, mulheres não poderiam se comportar como bem quisessem, ou seja, tinham que seguir determinadas regras sociais para serem aceitas entre seus colegas de sociedade. Essa realidade é bem nossa conhecida ao olharmos filmes de época, séries de época, ou mesmo ao reconhecermos alguns trabalhos de Jane Austen (outra autora reconhecida do século XIX). Mulheres que saíam da curva do que era "aceitável", eram consideradas inconvenientes à sociedade e poderiam ser ostracizadas. Charlotte não foi ostracizada, porém, enquanto viveu como mulher solteira entre seus colegas escritores, era considerada alguém muito apaixonada e que levava o papel da mulher e suas funções sociais não tão a sério quanto deveria. Mesmo que Charlotte não fosse uma feminista e que considerasse que as mulheres possuíam um determinado papel social, ela escrevia sobre mulheres que eram livres e que tinha vontades e que seguiam tais vontades. E, ao escrever sobre isso, ela se tornava isso, apesar de socialmente se apresentar como a pacata Charlotte Brontë, quieta e "sofrida" (uma imagem que ela mesmo delineou com seus contatos, para parecer alguém que pudesse agradar a sociedade).

Quando falo sobre escrever sobre um determinado assunto e ser acusada de ter vivido exatamente o que escreveu, me volto para a trajetória de Taylor Swift. Taylor foi, desde o início de sua carreira, uma cantora extremamente honesta em suas canções. Ela cantava e escrevia as canções que cantava baseada em sua vida e nas experiências que havia tido. A cantora utilizou sempre suas aventuras amorosas como foco de suas músicas e isso criou, assim como Charlotte, uma reputação para ela. Uma mulher de vinte e tantos anos, que escrevia sobre os relacionamentos que tinha e - oh boy - como ela tinha relacionamentos para escrever, certo? A mídia e a sociedade, aqui fazendo uma generalização, a via como a namoradeira que despachava homens e mais homens para poder, então, escrever canções e ganhar dinheiro em cima desses relacionamentos.

A relação entre as duas mulheres é interessante porque, assim como Charlotte, por meio de seu álbum Reputation, Taylor delineou a imagem que todos já haviam traçado dela: uma cobra que tinha uma longa reputação de ser um cobra e que agora, finalmente, aceitava essa posição e a abraçava. Essa tentativa de abraçar uma imagem para que a imagem que nos dão seja quebrada é uma característica bem comum entre mulheres que são artistas e que se expõem na mídia ou à sociedade em si. A mulher, não tendo os mesmos direitos ou igualdade que os homens, precisa ter um embasamento para falar o que está falando e seus sentimentos não podem ser levados em consideração apenas por serem sentimentos, porque sentir apenas demonstra a fraqueza que todas as mulheres já nascem sabendo que tem (ou a sociedade assim o crê).

Portanto, quando vemos que, no século XIX, Charlotte Brontë teve que criar sua imagem de mulher que sofreu muito e que era simplória, criada de modo displicente por um pai solteiro, ela poderia levar um desconto por ter escrito histórias tão ultrajantes com mulheres tão fortes. E, quando vemos que, no século XXI, Taylor Swift aceita que para que as pessoas parem de usar algo contra ela, ela precisa tornar isso em algo a seu favor, ela torna a imagem da cobra sua marca e mostra que a reputação é, sim, dela e por isso ela vai usar - e abusar - disso.

Talvez o que temos que repensar, no entanto, é como duas mulheres de épocas distintas, de costumes distintos, de países distintos, precisam enfrentar o problema que é: the reputation precedes them.


(Agora vamos aguardar o lançamento dia 26/04, até a próxima)

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