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Sylvia, Sylvia, you bastard, I'm through.

  • Foto do escritor: Stuart
    Stuart
  • 28 de out. de 2019
  • 3 min de leitura

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Lá vem eu falando de autora mulher novamente. Sim.


Dessa vez venho diretamente de uma thread feita do twitter (aqui o link: https://twitter.com/andevers/status/1188255602952298496) sobre a celebração da nossa escritora Sylvia Plath e venho com questionamentos que venho me questionando faz tempos. Primeiro, quem aqui não conhece a Sylvia Plath levanta a mão? Bom, imagino que a maioria de nós ao menos reconhece o nome dessa autora norte-americana, mas talvez não pelos motivos certos.

Uma das questões das artistas mulheres dos últimos tempos é que elas ficaram famosas pelas questões erradas e a Sylvia é um belo exemplo. Ela virou um mito, e um mito nem tão bonito porque ela é o mito suicida. Jovem, com tanto a explorar, um caso sério de depressão e se matou aos 30 anos. E a minha principal questão com tudo isso é: nós gostamos tanto da Sylvia porque ela foi essa jovem criadora, tão inteligente e voraz, e tirou sua vida tão jovem? Ou nós realmente exploramos quem ela foi em vida e quem ela foi como autora, sem nem pensar em outras situações?

A partir disso vem o verdadeiro questionamento disso tudo: o quanto comercializamos imagens de mulheres e as vendemos como se as imagens delas fossem sua arte. Quando, na verdade, a arte mesmo não tem nada de relação com a imagem da artista. Para citar um exemplo muito comum: Frida Kahlo. Apesar de ela utilizar sua imagem para fazer a arte, existe um limite entre quem ela expõe como arte e quem ela realmente é. Mas o que consumimos não é exatamente a arte de Frida Kahlo e, sim, a própria.

E com a Sylvia não tem sido diferente.

Esses dias me peguei lendo alguém falando sobre como "a Sylvia tinha se abrido como pessoa depressiva em seu livro 'Redoma de Vidro' e nos trazido para perto de sua vida" e, por mais que eu ache que realmente tem um pouco (ou muito) dela na obra, a obra não é ela. Até porque a obra é algo completamente ficcional. Acho que nos perdemos muito na hora de visualizarmos a artista Sylvia e, por causa de todos os problemas que ela de fato teve, achamos que a obra dela se resume a isso: uma narrativa de como a vida deprimida dela funcionava.

Por muito tempo eu me conectei com a Sylvia Plath exatamente porque ela soube colocar em palavras a dor que muitos de nós sentimos e por muito tempo eu senti um apreço genuíno pela pessoa Sylvia através da obra Redoma de Vidro e sempre que pensava na autora misturava muito com a imagem que tinha da personagem - até que não conseguia separar verdadeiramente quem era quem. E por muito tempo essa imagem foi sustentada por todo mundo que estava ao meu redor e que conhecia a Sylvia. E até hoje, quando falamos nela, falamos do gênio que era gênio porque falava de sua dor. Mas, percebam, até que ponto isso é adequado falar?

Questionar o gênio de autores já virou rotineiro pra mim desde que parei para pensar o quanto as pessoas conseguem confundir o livro, a vida, a personagem e a pessoa. Eu mesmo me apego tanto às autoras que as chamo pelo primeiro nome, como se fôssemos melhores amigas. Mas entendo que para tudo há limites. E por mais que queiramos dissecar tudo que Sylvia Plath fez pela ótica da depressão e da dor, Sylvia Plath foi uma mulher foda. Uma mulher que escreveu poesia, conto, romance. Uma mulher que estudou, se divertiu, se sentiu uma estrela. Sylvia Plath inclusive tinha uma autoestima elevadíssima. E tudo isso, todos esses intrincados que formam uma pessoa, fizeram com que ela fosse ela, Sylvia Plath A Autora. Mas às vezes esquecemos ou queremos transformar ela num personagem. Apenas algo para consumirmos, algo para estampar as nossas camisetas e canetas, uma mulher que escreveu sobre depressão e, portanto, não pode ser nada além.

Então, cá estou eu. Para dizer que Sylvia Plath é uma caixinha de surpresas. Ela pode pegar pela mão qualquer leitor e transformá-lo no que ela quiser. Você precisa apenas dar a oportunidade de ser levado para algo que não apenas o superficial. Explore sua obra, explore seus poemas e contos, afunde-se até nos seus diários (que são outra ficção-verdade), mas não a torne apenas o produto Sylvia. Acho que todos merecem ser mais do que apenas um, e também acho que devemos isso a ela.

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